terça-feira, 26 de agosto de 2008

O desaparecimento do algo



O desaparecimento do algo ou Ode ás constantes dores do mundo

Esse é um poema de esperança:
Esperança no presente; pois o futuro já não é mais o que se foi.

Muitas vezes desaparece;
Morre, desenterra
fantasmas do presente;
Esquecemos o algo que está ao lado;
Á quilômetros de distância, em nações
que possuem outras linguas
(quantas linguas já se falaram pelo mundo afora?)
E mesmo assim se esquece que ainda somos nós
que desaparecemos dia-a-dia em meio a
nuvens de ódio e rancor;

A vida de todos (quem somos esses todos?)
nos mostrou que o futuro nunca foi glorioso:
Ele foi apenas futuro,
futuro apenas,
e nada mais do que futuro;
A mistificação do algo, a maneira
como computadores afirmam
nossas vidas
Já se foi há tempos, e mesmo assim,
quilômetros distante,
uma criança sofre com algo que os
computadores não mostram
e no final encontro vida no computador, pois talvez
ele demonstre vida para alguem;

Aquela vila possuia um cinema;
As pessoas se divertiam, esqueciam a si mesmas lá;

Aquela vila possuia mulheres;
Todas se penteando para algo que já existia nelas
aguardando com esperança
aguardando com saudade.

Aquela vila possuía idosos;
Sentados em uma velha praça
Relembrando mais uma vez um dia do passado.

Tudo isso não é mais:
Acabou em uma nuvem, invisibilidade dolorosa
que tão pouco durou.

E ninguem esperou.
Mais um evento do cotidiano do mundo.
Cotidiano que não pára,
não espera,
pois o futuro está para chegar

A noite cobre mais uma multidão
que espera, e vibra
em mais um momento
Êxtase anulado pelas cortinas de ferro
Inundando mais uma vez a espécie humana
Em um mar de esquecimento e irrelevância.

É glorioso quem esquece.
Após lutar, é necessário que o
vencedor saiba que suas dores
suas feridas
seu sangue
não se desprendeu de si:
A glória está no esquecer.

Mas algo tão grande nos leva
todos os dias para todos os lugares
Esse algo tão grande esconde uma poesia
que não tem tamanho,
Uma sensação de morte incontida,
Um sabor de sangue e concreto e imagem:

Mais uma multidão liga a tevê
Assiste a si propria sem medo, sem rancor em uma solidão coletiva
que durará minutos, horas, anos, vidas,
retorno á tela e vago misteriosamente pelo absurdo
do vagar em uma tela
não espero,
pois o futuro está para chegar.

Perdemos passos
Perdemos tempo
Observando o quanto se construiu para alguém,
em um lugar que não sabemos onde é;
E realmente isso deveria assustar.

O tamanho dessa mágoa que existe por alguem
é algo tão ínfimo;
E as cidades cinzentas um dia foram
verdes, árvores e vida
e o mais irônico é que a mistificação está no cinza
das árvores de concreto
que se erguem cada dia mais cedo.

Esse é um poema de esperança:
Esperança no presente; pois o futuro já não é mais o que se foi.



Nota:
Esse texto em forma de poema foi escrito ás duas e meia da tarde, em uma tarde ensolarada. Após vagar sobre alguns fatos, me deparei com dois desastres que abalaram o final do século XX (Chernobyl - http://pt.wikipedia.org/wiki/Chernobyl e Bophal - http://en.wikipedia.org/wiki/Bhopal_disaster) - Não se sabe ao certo o número de mortos de ambos os "acidentes".

3 comentários:

Unknown disse...

será e esse é o futudo do ''mundo''

Caio Miranda disse...

Enquanto se lê, nada se sente. Quando termina, vem uma dor terrível. Ótimo, Anti.

Tamires Viana disse...

Seu texto-poema me lembrou comte-sponville, quando você fala em solidão coletiva. O livro do Comte-Sponville (O amor a solidão) fala sobre solidão a dois, solidão compartilhada.
Lendo seu texto, me lembrei que todos dias, desastres acontecem por aí, alguns, como esse, com niveis de radiação maiores que a bomba de Hiroshima, e muitos seguem suas vidas sem sofrerem nem minimamente por aqueles que morreram. Será que é só pelo idioma que falam? Ou será que é por que o ser humano tem pensado 1˚ nele, 2˚ nele, 3˚ nele, 4˚, 5˚, 100˚.... NELE.

Grande texto-Poema.