sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Quedas.

Essa plena sensação de liberdade forçada
De morte e destruição de algo que já se passou
Esperar, aguardar
Anseio pelo escurecer.
Só nesse momento, entre a penumbra e o sono
(quase que uma questão aberta ou esquecida)
sou algo além de mim
Além do Eu.

(Eu ou mais alguém?
Esqueço: esta é uma das questões esquecidas.)

Sempre achei estranha essa relação
entre as barreiras existentes dentro de mim
e as barreiras que eu forçava a existencia.

Sempre achei difícil transpor osbstáculos
Movimentar, um dedo sequer
seja lá qual dedo for
qual passo a ser dado, que mesmo sem nunca ter sido dado
existiu.

Quantos passos dados foram perdidos
em meio a uma imensidão de pensamentos natimortos
e sentimentos de prisão e liberdade forçada?

Quantos homens tremeram
diante daquela decisão já tomada por outros
e colocadas em seus nomes?

Muitos.
Sinto informar que já foram muitos.
Sinto informar.

Quantos eu não sei.
Nem pretendo saber.
Apenas sei.
Sei que foram uma imensidão
Exercito de dilemas e esperanças sem nenhum motivo para existir,
mas que existiram e tremeram.
Tremeram e tombaram.
Tombaram diante de si mesmas,
diante de uma sombra enorme
sem sentido
sem motivo.

Pode-se ouvir esse som
(o som da queda de dilemas e esperanças)
á distancia.
Sempre ouvimos.
Mas preferimos continuar andando,
ignorando toda e qualquer queda de homem por aí.
Só mais um homem, afinal.

Mais um esmagado diante de si mesmo e perdido diante dos outros.
Navegamos entre seres que ignoram quantas vezes cairam diante de si.
E continuamos caindo.
todos os dias.

Vamos ignorar esse mais alguem e voltar para o Eu.
Sim, Eu.
Sim, Eu.
Não.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sobre a destruição de todos os valores





Me venderam um sonho que eu não precisava.
E eu comprei.
Sim, eu comprei, não usei e ele está guardado em algum canto
da minha casa em algum comodo que não praticamente não uso.

É tudo inútil afinal.
Tudo.
Desde os passos que dei semanas atrás para ir á padaria
até a música que escutei no rádio
Tudo inútil.

Se me venderam esse sonho, e comprei, anulei-me nesse ato
Ato de me apagar, reescrever, simbolizar
O inútil.

Me lembro que o comprei
Em uma loja de usados
velhos sonhos e velhos anseios,
Despejados como crianças que choram e pedem clemência
por algo que nunca fizeram
(mas poderiam fazer)
Mas nunca fizeram!

Deixe-me lembrar, por quanto tempo fiquei olhando aquele sonho
Por quanto tempo deixei-me esperar observando
e vendo que não precisava, nunca precisei
Nunca iria precisar, ninguem iria precisar
(mas quem é ninguem,
se não conheço quase ninguem em meio a todos)

O levei para casa
Joguei ele em um canto
e sentei-me, observando o quanto ele era inútil
Ele me desprezava, o desprezava também
Éramos inúteis um ao outro:
O sonho, por não ter por que o usar
Eu, por não sonhá-lo, e mesmo assim o ter tão próximo
e tão distante ao mesmo tempo.

A noite chega, e continuo sentado observando o sonho.
A noite passando, eu sentado observando o sonho.
A nova manhã, e eu ainda sentado, com ele perto.
Me levanto, o jogo ainda mais longe, e me afasto.

Não sei quanto tempo ficou alí.
Sei que me perdi ainda mais dele
Sim, ainda mais, não sei como, mas ainda mais.

E me sinto um pouco inútil em meio á inutilidade disso tudo
Desde os cds de Tchaikovsky que são vendidos
a preço de pão em lojas caindo aos pedaços
até a porcaria do jornal que aquele homem em terno
e gravata
e sapatos novos e bem engraxados
brilhantes indo para um trabalho de merda
em meio a um monte de lixo.

Um pouco inútil.
Só um pouquinho.

Perco tanto tempo tentando descrever o
quanto eu levei para perceber que ele era inútil
que eu esqueço de comentar que ja tive outros sonhos em outros momentos,
mas estes me eram uteis,
bem uteis na verdade,
e mesmo assim dentro de toda a sua utilidade e beleza e calma
que me ofereciam,
não me foram vendidos.

Isso seria um sonho?
Não, pesadelo.
Sim, pesadelo de compra e consentimento do que é comprado.
Pesadelo, sonho que não se acorda.
Muitas vezes tenho dificuldades para compreender que isso é real.
Muito real, aliás.

Apenas comprei algo assim uma vez:
Essa vez.
Não nego que fui tolo,
mas sinto que,
mesmo se me esforçasse para descrever toda esta situação
não encontraria palavras para tanto,
e acho que poucos,
ou ninguem iria entender.

E o sonho continua lá,
guardado em algum canto,
só esperando para eu retornar e perceber
que ele ainda está alí,
guardado e esperando,
esperando para ser reaproximado do seu dono
que não o usa e o despreza por ele,
de certo modo,
não existir nem pra si,
quem diria para o seu dono?

Quantas linhas eu ocupo no espaço para uma porcaria dessas??
Quanto tempo alguém irá demorar para ler
algo tão ridiculamente pobre e infantil
Algo que não poupa esforços para ser completamente inútil!
Plenamente distante de qualquer motivo válido
para alguém, algum, algo??
Me desespero só de pensar que tanto tempo assim...
poderia ser usado para dizer outras coisas,
muito mais importantes e tão válidas...!
tão sinceras...!!
tão distantes da brincadeira ridícula que é essa!!!!!

Calma.
(...)
Tenho que me acalmar para continuar.
Sim, continuar mais uma vez.
(...)

Quem diria que esse sonho vendido seria um empecilho
tão grande para o seu dono.

Não comentei do preço dele ainda.
Não foi tão caro
(Foi quanto?)
Na verdade nem me recordo o quanto ele custou
Foi ha tanto tempo
(Foi tão pouco?)
Não precisava dele, afinal, por que me importaria com o preço?
Quem se importa?
(Foi?)
Você se importa?
(Foi quanto?)
O sonho mesmo não se importou em ser vendido por tão pouco.

E que preço seria esse?
Por que discuto preços para essa porcaria que comprei uma vez
Por que discuto algo que não teria preço algum
Somente eu, eu
Simplesmente eu fui o único ignóbil a comprar algo tão fútil
Comprar!
Como se compram sonhos??
Como fui eu que comprei isso???

Deveria me levantar agora, e ir em direção á loja
Jogar uma bomba, explodí-la
Destruir os sonhos deles, os sonhos de outros, tudo!
Matar, ensanguentar o chão daquela imundície de loja.
Que morram todos!!!!
Por que me venderam algo tão fútil??
Me fizeram de tolo.

Isso.

Compreendo agora, me fizeram de tolo, e por que só agora fui perceber??

Quero matá-los.

Não!!!!!!!!!

Iria prendê-los, torturá-los
Fazer sofrer por tudo que me fizeram passar.
Fazer sofrer muito, até pedirem desculpas.

Sim, seria vil!

Quantas pessoas não foram vis nesse mundo?
Por que logo eu seria o mais vil de todos os homens?
Somente por possuir alguma vontade de destruir algumas vidas?
Quantas vidas não se foram em pró de uma bobagem dessas????
Por que logo eu seria o pecador???
Que pecado seria esse??

Somente assim poderia esquecer novamente
por um momento, breve
mas um momento
um pequeno momento
alguns segundos
bem pequenos
Esse sonho.

Fecho as janelas e espero mais um pouco.
Só me lembrei desse sonho que me venderam uma vez.
Essa vez
Sem eu precisar.
Me venderam.
E eu comprei.
Compraria mais uma vez.
Sem remorso.
Apenas para me lembrar o quanto tudo isso não faz sentido.
(Fez alguma vez, afinal?)