quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pão

O pão daquele lugar era bom
As pessoas sempre estavam querendo ser gente
gente
gente nova
e educada
novamente gente
sempre mais gente que os outros
que tinham medo de ser gente
gente nova
e educada
O pão daquele lugar era bom
mas era apenas para pessoas que eram gente
gente de verdade
não de mentira
gente nova e educada
gente com carro
com dinheiro
com vida de verdade
com dinheiro de verdade
com carro de verdade
com vida
mesmo
e assim
com
pão
com pão macio
com pão novo
com pão que era feito de dinheiro
e educação
e verdade
e pontos finais
pois não é necessário mentira para quem tem
dinheiro
e pão
e não passa fome
nunca passou fome
nunca passou vontade
de ter pão
e não ter
por que tem dinheiro
e carro
e vida de verdade
e vida que tem pão e verdade e Deus
Deus gosta de pão
Pão e Deus
e dinheiro
e carro
e ruas
e aquele lugar
que tinha Deus
e tinha pão também
o pão daquele lugar era bom
por que tinha Deus
Deus
Deus
Deus
Deus
Deus
Dinheiro e pão
e Deus
E pão
Não tinham medo de nada
pois quem possui Deus e pão
Possui a verdade
que pode ser medida na base de Deus
E na base de Pão
e medo que não tinham
por que possuir medo
por que possuir medo se tinham pão?
Não há motivo
Não há motivo sem medo sem pão sem Deus
Mas eles tinham
Deus
e Pão
Tinham dinheiro
logo tinham pão
e tinham Deus
E tinham tudo
O pão daquele lugar era bom.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Entre a pena e a espada

Vou escrever um poema:
Analiso as palavras que possivelmente irei usar.

Trago meu caderno sempre comigo,
E a pena
E a tinta.

(os quais
fazem o ser
ser escritor:
escrever;
ser;
escrever é ser)

Sempre amigos e presentes
Sempre comigo
Sempre juntos
Sempre palavra
Sem pressa para existir.

domingo, 4 de outubro de 2009

Aforismatico

A cultura ocidental
possui como base a problematização do Ser,
o Ser enquanto
problematizado existe,
fora disso
ele é
tédio
e
morte.

sábado, 3 de outubro de 2009

Veils

Living under veils
Old stories to tell
and deserve:
Lies, after all.

Epifania


Véus.
Eles existem?


I

Preciso escrever sobre o medo:
Linhas sem véus.
Apenas a mais crua verdade exposta,
sem nenhum adorno
ou pudor.

Por que sempre tivemos muitos véus
encobrindo o que já se sabe
e fingindo deixar de saber o quanto tudo isso é verdade
ou mentira fabricada
como mais um
um a mais.

Não peço licença
para mostrar
(Não há a necessidade de apresentar a vida como ela foi,
ou como ela é?),
não peço.


II

E isso muitas vezes não significa nada
Muitas vezes é apenas um detalhe a mais
Nas grandes manchetes de jornais
Nas pequenas rotinas das pessoas que andam nas ruas
E ignoram a si mesmas
(Como não iriam ignorar o Outro?)

Escrevem linhas como se fossem muros
Apresentam fatos como se fossem uma porta a mais,
trancada,
que nos esconde a vida
que nos priva a visão
e a coragem de fazer um dia a mais ser outro dia
e não o mesmo.

Trabalhamos de sol a sol
para continuar a viver sob muros.

Desde quando?
(...)
Sempre foi assim?

Quantos sabem qual é o véu
Quantos fazem questão de mostrar
que o véu existe
está alí:
Simplesmente está.
Ignoro-o.


III

Preciso escrever
sobre a
fome
e a
miséria.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Página em branco

Nesta página
Reescrevo linhas
Anoto novos nomes
Esqueço velhos endereços
Calculo novos momentos
Recebo antigos presentes
Pergunto pois tenho novas dúvidas
Imagino novas linhas de poemas
Observo velhas ruas
Percorro estes caminhos
Perdôo todos os pecados
(que não existem
nunca existiram
e nunca irão existir).

Sobre o vazio.

Desce as escadas e continua
se perde em meio á multidão de si mesmo
o sono e a letra
o sonho e a pequena esperança
que existe no momento.

Desce as escadas pequenina,
por favor,
desce.

Continue por mim.
Já que são poucos os que possuem pernas
necessárias para continuar por estes degraus.
Desce.

Lá encontrará alguma resposta
Lá longe
Lá no final
Lá dentro:
Dentro de si mesma.